A responsabilidade social e a equidade de gêneros

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A desigualdade entre mulheres e homens é um constante em nossa sociedade. O reconhecimento de que as bases das desigualdades de gênero estão nas construções sociais e não na biologia abre a possibilidade de transformar as estruturas sociais, de maneira a reverter os processos geradores de desigualdade e mover outros capazes de produzir igualdade. Uma empresa fundada sobre os princípios da igualdade, da diversidade e da participação pode exercer uma função-chave no enfrentamento das iniquidades e dos conflitos sociais delas decorrentes.
A igualdade entre os gêneros é hoje uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
A construção de relações de gênero equitativas é um compromisso ético. Implica a construção de estruturas participativas e igualitárias, onde as mulheres não sejam vistas como pessoas vulneráveis ou passivas, ou simplesmente como ser útil, mas como agentes ativas das mudanças sociais e políticas. Mas as desigualdades entre mulheres e homens não afetam só às mulheres, mas também as possibilidades da sociedade em conjunto. A limitação estrita de papéis masculinos e femininos, os obstáculos interpostos a homens e mulheres para o pleno exercício de suas capacidades restringem as possibilidades de cada ser humano individualmente e da sociedade como um todo. 
O problema está nas relações assimétricas entre homens e mulheres. Portanto, a solução deste deve focar as relações desiguais de poder entre gêneros. Ao se desenvolver um programa para diferença entre mulheres e homens no ambiente de trabalho. Não se trata só de “incorporar as mulheres” às áreas de atividade e projetos existentes, mas de levar a cabo mudanças que assegurem que estas mudanças reflitam visões, interesses e necessidades das mulheres, e apoiem as diferenças entre mulheres e homens. As assimetrias têm de ser enfrentadas mediante políticas que apoiem processos de empoderamento, organização, e autonomia das mulheres.
Para o desenvolvimento de uma política para o empoderamento das mulheres deve-se avaliar se é possível ultrapassar a mera presença feminina na condição de trabalhadora e avançar no sentido de oferecer salários equivalentes aos dos homens, quais as oportunidades econômicas que a empresa está apresentando para as mulheres; se as vagas ocupadas pelas mulheres são de emprego qualificado; se, é possível desfazer os guetos da desqualificação e abrir espaços nos fundos da super-qualificação; em que medida as atitudes negativas ou destrutivas à ascensão profissional das mulheres têm sido enfrentadas; se a empresa adota medidas que possibilitem desnaturalização de tarefas tidas como “naturalmente femininas” (ex: cuidado dom os filhos) e o seu comportamento; em que medida a empresa  tem proporcionado condições para a divisão equitativa das responsabilidades familiares para mulheres e homens que nela trabalham; se a empresa cria condições favoráveis para que os homens possam participar e compartilhar o cuidado das crianças; se na relação com os seus “stakeholders”, a empresa valoriza positivamente aqueles que apresentam melhores resultados do ponto de vista da equidade de gênero; qual a proporção entre  mulheres e homens nos cargos de gerência e direção, e que medidas vêm sendo adotadas para mudar a situação; se há mecanismo que permitam mensurar os resultados das políticas de recursos humanos adotadas pela empresa sobre a equidade de gênero.
A necessidade de levar em conta as diferenças e as desigualdades existentes entre homens e mulheres gerou as políticas de diferenciação para diferença ou políticas de ação afirmativa, que tratam desigualmente quem está em condições de desvantagem a fim de diminuir as distâncias econômicas, culturais, sociais e políticas entre ambos os coletivos. As políticas sociais de ação positiva vão além das políticas sociais de diferença de oportunidades e propõem medidas temporárias que permitam enfrentar ou corrigir as discriminações resultantes das práticas sociais em ocasiões aparentemente neutras e do sistema social de gênero.
Para promover tanto o princípio da igualdade quanto o da diversidade, deve se definir medidas e promover ações que enfrentem ao mesmo tempo as várias formas de discriminação ou opressão (raça, classe, e posição atual nas sociedades). “Os resultados de iniciativas para a reversão das desigualdades são alcançados em longo prazo, mas se pode afirmar que compensam economicamente, porque trazem o reconhecimento e prestígio dos consumidores, dão mais visibilidade e aceitação da marca, trazem uma boa reputação empresarial, alem de motivar funcionários (as), impactando na retenção e captação destas capacidades e no clima organizacional. Trata-se de um redirecionamento de objetivos: de lucros para lucros aliados a princípios, de decidir, anunciar e defender-se para dialogar, investir e comunicar, de políticas compensatórias e obrigações legais para pró-atividade, ética e coerência nas práticas de Responsabilidade e Social”.

Marcela Barros
Advogada

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