Desigualdades políticas

by - 01:03:00



A mulher teve uma modesta participação na política institucional durante a história, e ainda hoje, a sua entrada na política por meio de cargos eletivos ou posições ministeriais tem sido muito retraída mesmo em países com uma tradição feminista e democrática bem maior que a brasileira.
De acordo a União Interparlamentar, uma organização internacional dos parlamentos dos Estados soberanos, em um ranking que avaliou a penetração política por gêneros em 146 países, o Brasil ocupa o 110º lugar, ficando atrás de países como Eslovênia, Togo e Serra Leoa.
A Lei nº 9.504/97, alterada pela Lei nº 12.034 de 2009, em seu art. 10, §3º, assegura a reserva de 30% e 70%, para cada sexo, do número de candidaturas a que os partidos políticos e coligações têm direito, e apesar de ser uma importante ferramenta de incentivo à participação política das mulheres, historicamente afastadas dos pleitos eleitorais, na prática quase nada alterou.
Em 2014 a Procuradoria Regional da República do Estado de São Paulo foi obrigada a ingressar com ações de impugnação de registro de candidatura contra quatro partidos que não atingiram a cota mínima de 30% de mulheres concorrendo aos cargos no Legislativo Estadual e Federal, com a finalidade de regularização na proporção de candidaturas por sexo, já que a lei não previu qualquer tipo de sanção ao partido que descumprir a norma legal, desde que este adeque à norma.
Os próprios partidos encontram problemas para atingir determinado percentual e, quando o fazem, algumas são “candidatas-fantasma”, que nem se quer fazem campanha porque não pretendem serem eleitas. De acordo com estudo realizado pelo Ibope de 1992 a 2012 o avanço da participação feminina foi, em média, 1% no número total de eleitas a cada pleito municipal, de forma que a paridade entre os sexos nos espaços municipais de poder levariam pelo menos 150 anos no Brasil, na visão do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves (Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE).
Sobre a participação política das mulheres no país nos últimos trinta anos, podemos destacar: a criação em 1985 de um Conselho Nacional da Condição da Mulher, que teve profunda influência no final da década de 1980, essencialmente junto à Assembleia Nacional Constituinte; a Constituição Federal de 1988, que assegurou um conjunto de direitos às mulheres; a existência no âmbito do Ministério da Saúde do PAISM; a multiplicação pelo país de delegacias de polícia da mulher e conselhos estaduais e municipais.
Há duas questões de diferentes naturezas quando se trata do assunto da participação das mulheres. Uma sobre a fraca participação destas nas esferas estritas da política, ou seja, na área eleitoral e nos cargos de primeiro escalão de governo, representados pelas ministras e secretárias estaduais. E a outra questão cuida das formas alternativas de participação das mulheres, que as possibilitam obter êxitos tão expressivos como os supra citados.
Nos últimos tempos houve um aumento muito grande de ONG’s no Brasil, sendo que várias se iniciaram com movimentos sociais, pois várias mulheres que militaram no movimento feminista na década de 1970 e 1980, formaram-se nas mais diferentes profissões e fundaram organizações onde trabalham comprometidas com os ideais feministas.
Feminismo é um movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens. [1]
O aumento das ONG’s e as mudanças que elas representam no movimento feminista têm que ser observados sob a óptica do modelo institucional desse tipo de entidades, que se formam como organizações privadas sem finalidade lucrativa, e atuam através de projetos destinados a populações específicas ou à defesa de determinadas causas.
Tais organizações, normalmente, são financiadas por fundações internacionais, porém, certas vezes são bancadas pelo próprio governo, numa forma de terceirização de serviços e responsabilidades sociais.
Apesar de ser muito econômico para o país, fica fadado a limitações, porque quase sempre as ações das ONG’s são escolhidas pela agenda das fundações internacionais, graças aos critérios firmados para a renda destinados à manutenção das corporações.
Outro aspecto primordial que há neste tipo de organização é a institucionalização, o que significa que uma feminista não deixa de ser feminista á partir do momento em que cria ou que se associa a uma ONG, mas ela passa a falar de um lugar institucional que a diferencia de outras feministas que compõem outras instituições.
Ainda que representem 51,7% dos eleitores brasileiros, as mulheres têm menos de 10% de representação efetiva na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, e para o professor José Eustáquio (ENCE/IBGE), esta particularidade se dá em razão da forma pela qual os partidos são organizados, que são em sua maioria “controlados por homens, que dão pouco espaço para as mulheres estruturarem suas campanhas”, e não em face da carência de mulheres aptas a concorrer.
No ano de 2000, através do Relatório de Direitos Humano, a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu a importância da promoção da igualdade entre homens e mulheres, ao concluir que “a discriminação histórica contra a mulher causa um impacto negativo no crescimento econômico e social dos países e do mundo, mensurável mediante indicadores econômicos”.
Mais tarde, em 2003 foi criada a Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República com o propósito de ampliar e fortalecer a participação feminina, promovendo a igualdade entre homens e mulheres e buscando combater todas as formas de preconceito e discriminação herdadas de uma sociedade patriarcal e excludente.
Recentemente houve a realização da 4ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, em Brasília, onde se discutiu a necessidade de mudanças em todos os processos decisórios e de poder, no intuito de proporcionar a construção de uma sociedade mais igualitária, através da reforma política e democratização do Estado.
Para a Ex-Diretora-Executiva da ONU Mulheres, Ex-Subsecretária Geral das Nações Unidas, e atual Presidente do Chile, Michelle Bachelet, a situação no Brasil exige a criação de políticas transversais no mais alto nível da gestão pública. “Instituições fortes, que promovam o empoderamento das mulheres, são indispensáveis para garantir avanços e impedir retrocessos”.
A título de informação, Ruanda é o país que tem maior representatividade de mulheres no cenário político, com 56,3% de mulheres ocupando cargos parlamentares, graças a sua política de cotas. O sistema de cotas se faz necessário, na medida em que insere a mulher em um reduto eminentemente masculino.
Muitos países já vêm adotando ações afirmativas, inclusive através do sistema de cotas, para garantir determinada porcentagem de mulheres ou resguardar a representatividade feminina nos Poderes Legislativo e Executivo.
Na Noruega adota-se o sistema de cotas desde 1978; na Dinamarca, a lei define o equilíbrio entre os gêneros nos comitês consultivos e administrativos desde 1985; na Finlândia é obrigatória a representação de cada sexo de, no mínimo, 40% nos comitês e órgãos públicos de decisão; na Irlanda, os partidos adotam a cota mínima de 40% para cada sexo nas instâncias de decisão, desde 1990; na Bélgica a lei exige o limite de 2/3 de cada sexo das listas de candidatos dos partidos; no Uruguai, nenhum gênero pode ter mais do que 75% nas listas de candidatos; na Argentina, pelos 30% das listas de candidatos devem ser preenchidas por mulheres; e na Colômbia, determinou-se a obrigatoriedade de igual proporção de homens e mulheres nas listas eleitorais, desde 1998.
Todo e qualquer Estado Democrático de Direito deve se na pautar na constante luta em defesa dos direitos da mulher, e na busca pela erradicação de todas as formas de discriminação e violência contra elas. Como o Brasil é um país dito democrático, o qual tem como base a promoção do bem-estar social de todos os cidadãos sem distinção, de qualquer raça e gênero, não pode se omitir dessa desigualdade histórica, social e jurídica de que as mulheres foram alvo.
 


Marcela Barros
Advogada
 




[1] Disponível em <http://www.significados.com.br/feminismo/> acesso em 20 mai 2016.

You May Also Like

0 comentários