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Os desafios e as dificuldades enfrentados pelas Mulheres no âmbito jurídico

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Em 1906 a primeira mulher brasileira ingressou no quadro de sócios efetivos do Instituto dos Advogados do Brasil. Myrthes Gomes de Campos precisou superar preconceitos para exercer a advocacia em um período em que a mulher contava com pouquíssimos direitos na vida em sociedade e em que era amplamente sustentado que o casamento e a maternidade deveriam constituir a principal aspiração da mulher.
Em sua primeira atuação como defensora no Tribunal do Júri, Myrthes abriu o discurso com as seguintes palavras:
“Envidarei, portanto, todos os esforços afim de não rebaixar o nível da Justiça, não comprometer os interesses do meu constituinte, nem deixar uma prova de incapacidade aos adversários da mulher como advogada.”
Muitos anos transcorreram após o acalorado discurso de Myrthes, no entanto, ainda hoje vislumbramos vestígios do estigma da incapacidade da mulher como advogada, herança de nossa sociedade patriarcal.
Não restam dúvidas de que o ambiente acadêmico atualmente é composto por um elevado número de mulheres, entretanto, ao iniciarem a vida profissional as mulheres precisam comprovar não apenas a sua capacidade como profissionais, mas também sua capacidade como profissionais do gênero feminino.
Ainda que o número de advogadas e advogados seja próximo, é inconteste que o espaço na área do Direito é dominado por homens. Em um ambiente predominantemente masculino e conservador, nós, mulheres, somos frequentemente testadas e não é raro ouvirmos: “Você fez isso sozinha?”, “Precisa de alguém pra te ajudar na audiência?”, “Na hora do julgamento não vai chorar, eim”.
O preconceito machista se impõe como uma barreira ao crescimento da mulher advogada como profissional.
Além da advocacia, é demasiado recente o ingresso de mulheres nas demais carreiras jurídicas, afinal, somente no ano de 2000 foi aprovada a admissão da primeira mulher ministra no STF, Ellen Gracie.

Nessa oportunidade, constatou-se o despreparo dos órgãos superiores para receber mulheres: não havia banheiro feminino para aquelas que fossem ocupar o cargo de ministras.
Os desafios no ambiente de trabalho vão além, infelizmente ainda são comuns no cotidiano feminino os comentários jocosos sobre a aparência, as cantadas e outras diversas formas de assédio.
Nesse ínterim, vale lembrar que constitui crime se aproveitar do cargo exercido para obter vantagens sexuais de um subordinado, de acordo com o artigo 216 A do Código Penal.
Relevante mencionar também que o assédio moral, forma de violência no trabalho que consiste em submeter o trabalhador a situações vexatórias, constitui falta grave do empregador e pode gerar rescisão do contrato de trabalho.
Em que pesem os desafios e dificuldades enfrentados pelas mulheres no âmbito da advocacia, são inegáveis os avanços conquistados, tanto é que a OAB proclamou o ano de 2016 como o Ano da Mulher Advogada, no qual se buscará a implementação do Plano Nacional de Valorização da Mulher Advogada que propõe diversas ações para garantir a participação das profissionais na Ordem e proteger nossas prerrogativas.
Cumpre esclarecer que neste ano algumas medidas serão debatidas para criar mecanismos de fortalecimento das mulheres, tais como preferência em sustentações orais para advogadas grávidas, suspensão de prazos no mês do parto, entre outras ações que busquem o desenvolvimento profissional e a tranquilidade pessoal da mulher advogada.
Os passos das mulheres seguem céleres em busca do reconhecimento e respeito no ambiente profissional, nunca nos curvarmos a situações em que o machismo prevalece é a nossa luta e como diria Cecilia Meirelles:
“Não venci todas as vezes que lutei, mas perdi todas as vezes que deixei de lutar.”



Mariana Oliveira
Advogada



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