As cidades atuando internacionalmente: uma breve introdução
Quando o
assunto envolve o ambiente internacional, ou seja, deixa de abranger o que
acontece somente dentro de um Estado, como o Brasil, é muito comum que se pense
apenas na atuação dos países, no máximo das grandes empresas multinacionais ou
transnacionais.
É como se o Internacional
estivesse reservado para a ação desses grandes entes que são, muitas vezes,
abstratos e distantes da população no geral.
Contudo, organizações
internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização
Mundial do Comércio (OMC), dentre outras, Organizações Não-Governamentais
(ONGs), como a WWF-Brasil, a chamada Opinião Pública, estados federados e
municípios também podem ser encontrados como atores internacionais, embora
fiquem um tanto esquecidos.
Assim, se
os atores que possuem maior destaque estão tão distantes da população, é
compreensível que a área de estudos das Relações Internacionais, a qual enfoca
esses contatos internacionais, seja ainda tão desconhecida do povo.
Inclusive porque a Política
Externa[1]
não é um tema tratado com tanta frequência na mídia, especialmente nos grandes
canais de televisão aberta que são veiculados no Brasil, e não é sequer
mencionada no período eleitoral, o que causa a impressão de que esse tipo de
política não tem interferência na vida cotidiana.
Há motivos suficientes para supor
que a maior parte dos brasileiros não sabe que as negociação externas,
principalmente acordos de importação/exportação, interferem no valor dos
produtos que estão disponíveis para compra, por exemplo.
Feitas
essas observações, não é de estranhar que a atuação internacional dos estados
federados, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e das cidades, como São Paulo
(SP), Guarulhos (SP), Jaboatão dos Guararapes (PB), Recife (PB) Belo Horizonte
(MG), Canoas (RS), dentre tantas outras, permaneça pouco conhecida e
estimulada.
Claro que
há mais questões envolvidas além do desconhecimento, a exemplo da legislação
brasileira que não permite que o estados e municípios celebrem tratados,
somente o Governo central (também chamado de União) e os problemas específicos
da administração pública municipal, como a falta de funcionários capacitados
para trabalhar com esses temas, a falta de dinheiro para executar projetos e
mesmo certa complicação criada pela burocracia[2].
Apesar de
todas as complicações e incertezas jurídicas, é possível encontrar cidades que
participam das Redes de Cidades, associações que versam sobre um tema
específico ou sobre vários, muitas vezes em busca de soluções para problemas
específicos e troca de boas ideias (práticas).
Pode-se citar como exemplo a
Mercocidades, rede que atualmente tem 303 membros e que busca inserir as
localidades no processo de integração do Mercosul (Mercado Comum do Sul),
criando um bloco mais justo e acessível ao cidadão e a Cidades Educadoras, cujo
objetivo é trabalhar as questões relacionadas a Educação, transformando as
cidades em grandes espaços educadores e as escolas em locais comunitários.
Outros municípios realizam
Acordos de Cooperação Técnica em que um lado da parceria tem mais experiência
com uma questão, resíduos sólidos, por exemplo, e ajuda a capacitar os
funcionários do parceiro, tentando sanar problemas e desenvolver a mão-de-obra
local, bem como outros realizam projetos que atingem diretamente a população,
muitas vezes financiados por outras cidades ou por grandes organizações, como o
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento ou a FAO – Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e Agricultura, como a capacitação de mulheres feita
em Guarulhos para que pudessem cultivar hortas urbanas[3],
só para dar um exemplo.
Também há aqueles que criam
pastas na Administração para cuidarem desses temas específicos, o que no Brasil
são as Secretarias Municipais de Relações Internacionais e outros órgãos afins
(assessorias, coordenadorias, etc). Contudo, é importante notar que essas
formas de inserção não são excludentes, ou seja, muitas localidades estão em
redes, realizam acordos e projetos e possuem órgãos específicos para coordenar
essas ações.
Por fim,
outra face desses processos é a ajuda que as associações internas, como o
FONARI – Fórum Nacional de Secretários e Gestores de Relações Internacionais, a
Assessoria Internacional da Confederação Nacional dos Municípios e mesmo a
Frente Nacional dos Prefeitos – FNP, fornece às cidades e que é essencial para
o fortalecimento das iniciativas, no sentido de criar um espaço de troca de
experiências e de promoção das demandas específicas dos municípios.
Priscila Freires Rosso
Internacionalista
[1] O
conjunto de objetivos que um Estado, como o Brasil ou a Espanha, querem
alcançar por meio de contatos com outros países, grandes organizações
internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), etc. É importante
dizer que não é o mesmo que Política Internacional, que é o conglomerado de
acontecimentos políticos que ocorre fora das fronteiras de um Estado.
[2]
Esses foram alguns dos problemas elencados nos resultados da pesquisa “O
‘empoderamento’ dos Governos Locais e a constituição das Secretarias Municipais
de Relações Internacionais (SMRIs): um mapeamento do Brasil” realizada na UNESP
Franca, sob a orientação da prof. Dra. Regina Laisner e que brevemente estará
disponível em livro.
[3] Há
uma cartilha de divulgação dos resultados do projeto Guarulhos Semeando o
Futuro produzida pela Prefeitura de Guarulhos e que pode ser encontrada no site
da Prefeitura.


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